Em um mundo onde predomina a valorização do TER em detrimento do SER, onde não há uma idéia bem definida do que esperar depois do fenômeno da morte, o caminho da autodestruição ou seja, do suicídio, parece não apenas aceitável como até mesmo lógico e solucionador, diante de uma perda considerada irreversível.
Em outras culturas, como a dos japoneses, o suicídio é muitas vezes considerado um ato de bravura, como quando os kamikazes direcionaram seus aviões-bomba aos contratorpedeiros americanos em Pearl Harbor, ou um jovem adolescente que se suicida por não ter passado no teste para o 2º grau acreditando ter desonrado o nome e a tradição da sua família, postura essa adotada pela supervalorização da chamada honra que é, como sabemos, filha dileta do orgulho.
O Espiritismo vem, então, esclarecer, trazer luz às reflexões sobre este ato infeliz, que certamente neste instante povoa a atmosfera mental de muitos dos que sofrem em nosso planeta. Basta um de seus Princípios Básicos para apaziguar e trazer um traço de esperança aos corações desamparados: a Pluralidade das Existências, a Reencarnação.
Diante da certeza das vidas sucessivas, o Homem não tem mais o direito de cogitar sobre o impossível, o irreversível, o inatingível. O melhor sempre está por vir. As dificuldades instruem e passam, as virtudes se consolidam e ficam.
No entanto, esta certeza não se adquire como quem decora um texto para um exercício escolar, ou ainda como quem recita uma oração cheia de palavras e vazia de sentimentos. Esta certeza é fruto do raciocínio e do estudo, da vigilância e da perseverança.
A Doutrina dos Espíritos nos traz também a triste notícia daqueles nossos irmãos que pelos mais diversos motivos precipitaram seus processos desencarnatórios: histórias de dor e angústia muitas vezes maiores que as que tinham quando outrora encarnados. A consciência de si mesmo se descortina e esta nudez espiritual é motivo de grandes padecimentos. Diversos irmãos conservam ainda em seus corpos perispirituais as graves conseqüências dos seus atos violentos, que dificultarão deveras as suas próximas oportunidades no mundo material.
Frente a estas verdades incontestes, vamos refletir sobre a nossa própria atitude mental, será que de vez em quando deixamos os nossos pensamentos percorrerem os caminhos da desesperança? Será que nossos comentários algumas vezes pessimistas e outras difamatórios não estão destruindo os sonhos de alguém carente de luz e esclarecimento? Será que a nossa tirania no dia-a-dia para com os desamparados da vida não os está empurrando cada vez mais para o abismo do suicídio? Reflitamos nisso.
Marcelo Leal Limaverde Cabral
(escrito em 1997)