Ouvindo o último episódio “sem fim” do Iradex Podcast me identifiquei várias vezes com o papo, tanto que em vários momentos me dava uma agonia da gota, eu queria “entrar na conversa” pra contar minhas histórias.
O primeiro desses momentos foi quando eles citaram a Messejana, quando morei em Fortaleza (de 2 a 8 anos de idade) lembro demais de irmos à Messejana visitar parentes, porque era onde minha mãe tinha nascido, e sempre que vinha alguém de fora nos visitar, meu pai fazia questão levar os forasteiros pra conhecer “A Casa de José de Alencar“, eu adorava ir porque tinha um parquinho massa, e um restaurante que servia Baião de Dois (ainda hoje adoro).
O outro assunto que eu queria dar pitaco foi o das histórias de ônibus, eu tenho várias da minha adolescência em Recife, quem sabe algum dia as conto também por aqui. Mas curiosamente a história de ônibus que queria contar pra galera do Iradex aconteceu em Fortaleza, no ano de 1996. Na ocasião eu estava fazendo um projeto (pela empresa que trabalhava na época) para a Fábrica Fortaleza, do grupo M.Dias Branco, e eles me colocaram num hotel do grupo, na Beira Mar (não lembro o nome, mas não era o Praia Centro, era um bem ruinzinho 2 estrelas).
Passei umas duas semanas trabalhando lá e no meio desse período teve um feriado numa quarta-feira, ou seja, nada pra fazer durante o dia. A empresa não me dava diária, apenas pagava minha alimentação, e eu na época, recém casado, vivia liso, salário de uns 1000 reais e pagava 400 de aluguel, não dava pra andar de taxi pra cima e pra baixo, decidi então pegar um ônibus pra ir no Shopping ver um filme no cinema.
Assim começa minha saga: Desci e perguntei na recepção como fazia pra pegar um ônibus pra ir no Shopping, o recepcionista me explicou direitinho, eu tinha que ir na avenida paralela à Beira Mar e pegar o “Grande Circular 1“. Ele me garantiu que por ser feriado em uns 15 a 20 minutos eu chegaria no Shopping, pensei “legal é perto”! E lá fui eu pra parada, o ônibus chegou, bem cheio, mas a viagem realmente durou “só” uns 20 minutos (O Google Maps me diz que hoje em dia levaria uns 38 minutos em média, pense num trânsito).
Assisti meu filme (não lembro qual), fiz um lanche (pastel e caldo de cana provavelmente) e decidi voltar pro hotel, mas quando estava saindo pela porta do Shopping percebi que esqueci de perguntar ao recepcionista qual ônibus eu pegaria pra voltar. Neste momento, minha mente “privilegiada” de “programador Visual Basic” pensou, se o nome do ônibus tem “Circular” então se eu pegar ele aqui no Shopping na mesma parada que eu desci, ele vai acabar voltando pra parada perto do Hotel, gênio!! Fui lá e peguei o coletivo. Só ignorei que o nome da linha em questão se iniciava com outra palavra bastante importante: “GRANDE”!
Não demorou muito e o meu senso aranha de direção me fez perceber que ele andava para o sul, distanciando-se rapidamente da beira do mar, mas minha mente em sua soberba, teimava em racionalizar “ele vai fazer a curva em algum momento, relaxa e aprecia a vista!”, pois é amigo leitor, o ônibus encheu e secou (como se diz lá no Ceará) muitas vezes, segurei sacola, menino pequeno, dei o lugar pra velhinha (e mulher grávida), sentei na janela e no corredor, visitei os mais pitorescos bairros suburbanos de Fortaleza e todos os seus aprazíveis terminais de integração, e finalmente quando já trafegava naquele busão por mais ou menos 1 hora eu pensei: “De avião eu já tava em Recife, acho que tá demorando isso aqui!”
A bronca é que agora era tarde demais, nessa altura do campeonato era muita vergonha dizer pro cobrador que eu peguei o ônibus no Iguatemi e queria ir pra Beira Mar, então me resignei e considerei essa minha penitência por ser um macho nordestino que não precisa perguntar pra ninguém o caminho por que já sabe como voltar. Nossa aventura chega a um fim mais ou menos uma hora depois, com o sol se pondo, a bunda quadrada e uma lição: “Se vai usar a lógica pra resolver uma questão, leia o enunciado TODO imbecil!”
PS. A imagem abaixo mostra todo o trajeto que eu percorri e caso queira saber o nome de cada uma das 68 (sessenta e oito) paradas que visitei clique nela.