Em 1996 quando a Internet ainda engatinhava eu decidi fazer uma “homepage“, a ideia era de alguma forma aprender como aquilo funcionava e fazer parte desse novo mundo. Naquele mesmo ano um trabalho realizado pelo meu avô paterno, Tomé Cabral, completava 20 anos de publicado, uma pesquisa exaustiva realizada por ele, cascavilhando as origens da família da minha avó, Salma Limaverde. Mas não vou dar spoiler agora, mais pra frente conto essa história.
Quando a pesquisa estava quase pronta, vovô Tomé pediu a ajuda de meu pai para resolver um problema, pois além dos escritos contando a peculiar origem da família (tenha paciência eu conto já), ele havia também levantado os dados de todos os descendentes do patriarca, um estudo genealógico de sobrenome que registra descendência, e não ascendência como nas árvores genealógicas mais comuns. O problema de vovô era arrumar um jeito de formatar os dados da árvore genealógica para publicação, de forma que ficasse lógico e organizado. Papai trabalhava na IBM desde a década de 60, como técnico de mainframes e lidava com computadores numa época que ninguém sonhava que eles estariam literalmente na palma das nossas mãos algum dia. Papai com ajuda de amigos da IBM chegou a uma solução realmente engenhosa, adaptar um sistema de contabilidade para cadastrar todos os familiares de forma hierárquica, 1. seria o primeiro filho, 1.1. seria o primeiro filho do primeiro filho, e portanto neto do patriarca.
Para a “digitalização” dos dados foram utilizados os antigos cartões perfurados da IBM (foto ao lado), centenas e centenas, posteriormente lidos e arquivados em fitas magnéticas e finalmente os dados foram impressos em impressoras de linha. Essa tecnologia toda possibilitou que a formatação do livro fosse agilizada de forma impressionante, numa época que a diagramação de livros era um processo quase artesanal.
Todo esse trabalho teria permanecido naquele livro de 1976, com tiragem limitada, se não fosse a iniciativa do meu tio Rômulo Limaverde que já na década de 80, com seu IBM-PC digitalizou todo os dados da árvore em um banco de dados DBF (DBase III, Clipper etc.) e me passou uns disquetes com esses dados quando estive em Fortaleza visitando-o.
Voltamos então a 1996 quando eu estava criando minha homepage, lembrei que tinha os dados da árvore e poderia utilizar a Internet para não apenas disponibilizar a história da família, mas também poderia atualizar a pesquisa da árvore com a colaboração dos familiares pela grande rede. Eu converti os dados de DBF para um banco de dados MS-Access e fiz um aplicativo para editar os dados e gerar as páginas HTML a partir do banco de dados, mas era tudo offline, depois de exportar eu tinha que subir as páginas atualizadas pro servidor manualmente, naquela época ainda não existia ASP.Net, PHP nada de páginas dinâmicas. As pessoas preenchiam um formulário no site, e eu recebia via e-mail, editava o banco de dados e gerava o HTML atualizado e subia tudo. Clicando na imagem que abre esse post você vai ver como era o “design” da primeira versão do site.
Nessa época dei até entrevista para a Folha de S.Paulo e algumas revistas de Internet (existia isso) pois fomos a primeira família brasileira com a árvore genealógica online. Infelizmente poucas pessoas tinham acesso à rede, eu recebia apenas atualizações ocasionais, mas mesmo assim era um trabalho manual que me fazia postergar atualizações, o que frustrava com razão quem estava colaborando.
Por cinco anos ficou assim, até que em 2001 eu tomei vergonha na minha cara de programador e fiz uma versão dinâmica do site, onde os familiares poderiam se cadastrar para atualizar os dados da árvore diretamente, eu tinha apenas que revisar os cadastros. Em 2007 uma nova versão entrou no ar, agora com domínio definitivo www.limaverde.net e com features de “social media“. Desta vez porém, esbarrei em outro problema da rede, spammers russos, em 2009 sofremos um ataque de SQL injection (eu sei, mea culpa) que danificou os dados de autenticação do site e para não comprometer a integridade do banco de dados da árvore genealógica eu tive que retirar o site do ar, até ter tempo de reforçar a segurança.
E esse tempo demorou pra chegar, pois o trabalho e depois minha transferência pros Estados Unidos me tiraram todo o tempo e motivação de recolocar o site no ar, virou aquela tarefa constantemente presente nos checklists e kanbans da vida.
Até que um dia, no começo desse ano, Leo (12) meu filho mais novo, começou a perguntar pra mim e pra Érika sobre as histórias da família, dos avós, e eu me toquei que falava pouco sobre essas histórias com ele, e que eu mesmo conhecia pouco sobre períodos inteiros da vida do meu pai e dos meus avós. A nova geração família precisa conhecer essas histórias!
Era isso que eu precisava para retomar esse (e outros) projetos hibernantes, botei a mão na massa, virei umas noites e coloquei no ar a versão 4.0 do site da família, ainda em cima do código da versão de 2007 mas com segurança e privacidade aumentadas, e com a inclusão do cadastro de cônjuges na árvore genealógica.
Eita, quase que eu esquecia, você leu todo esse “textão” esperando pra saber mais sobre a peculiar história da família Lima Verde? Melhor então eu passar a palavra pra vovô que era um escritor de verdade e não esse blogueiro ocasional. Clique na imagem ao lado pra ler um extrato do texto original escrito por ele no livro “A Família Lima Verde”, contando essa história pra gente.
Se tudo correr como planejado, no ano que vem teremos a segunda edição ampliada dessa obra, com a ajuda de toda a família atualizando colaborativamente através do site.
PS. Fique ligado no endereço http://lvcabral.com para conhecer (em breve) outros novos projetos relacionados com os trabalhos de vovô Tomé.