Como foi a sexta do Abril Pro Rock?

The Mission em Recife 19/04/2002Pois é, acabei indo sozinho mesmo para a primeira noite do APR, sai de casa por volta das 08:30h e fui conferindo no caminho pela Rádio Cidade como estava a movimentação e se os shows haviam começado.

Na entrada já deu pra perceber que a produção caprichou na segurança, tinha mau-encarado-de-preto pra todo lado, sempre em bandos. Depois de receber um abanador com a bandeira e a letra do Hino de Pernambuco e um lenço da Kaiser de garotas-propaganda sorridentes, consegui chegar ao pavilhão onde os meninos da banda Psicopatas já estavam tocando no palco 2, isso mesmo eram meninos, pois a garotada não tinha mais do que 14 anos, e apesar de fazerem um som pesado, com o baterista se perdendo às vezes, empolgavam apenas os pais, familiares e amigos perto do palco. Para você sentir um pouco o clima, em uma das músicas “dedicada à minha professora de matemática” (sic) podia se ouvir o refrão: “Equação é coisa de mamão!”

No meio do (ainda) pequeno público encontrei logo de cara o Fábio Massari, VJ da MTV e presença certa no APR há alguns anos, apesar de ter dado alguns autógrafos poucas pessoas o percebiam por lá. Ele ficou na platéia até o final da segunda banda da noite os Subversivos.

A banda não poderia, por sinal, ter nome mais adequado, abriram e fecharam o show com o hino da Internacional Comunista, e todas as letras e discursos eram absolutamente leninistas, o símbolo da banda presente na bandeira, camisa e na jaqueta do vocalista é a tradicional foice+martelo, com o martelo transformado em um braço de guitarra. Deles eu guardei na memória o que considerei o ponto alto do show, uma música entitulada alguma coisa como “Destruam o PFL”. O vocalista desfraldou a bandeira deste famoso partido que foi pisoteada, cuspida e no ápice da apresentação devidamente rasgada. Apesar de não ser eleitor do PFL, a cena só me fez rir. Ahh, quase esqueço de falar do som deles, músicos bem competentes, em um som hardcore, com algumas melodias legais.

Por volta das 22:00h, com um público ainda pequeno, a voz-apresentadora da noite convida todos a se aproximarem do palco principal, The Mission iria começar a sua apresentação. Eu já estava devidamente posicionado bem na frente, um pouco atrás de uma meia-dúzia (literalmente) de fãs exaltados da banda, tinham até faixa. Para quem não sabe o The Mission nasceu de ex-integrantes da famosa banda dark The Sisters of Mercy. Aquele público relativamente pequeno e pouco entusiasmado causou em mim uma sensação estranha, por um lado era do cacete estar ouvindo ao vivo uma das três melhores vozes do rock inglês (na minha opinião), um sonho, mas por outro eu sabia o quanto aquele público desinteressado era brochante para eles, que já lotaram ginásios e são respeitados internacionalmente. Pra piorar houve um rápido blackout durante o show seguido de problemas de microfonia que irritaram o vocalista Wayne Hussey.

Não decorei a playlist mas eles apresentaram uma coletânea dos maiores hits e algumas novas. As que eu me lembro que com certeza foram executadas: Wasteland, Deliverance, a mais conhecida Severina, Tower of Strength e a linda Garden of Delights. O mais importante porém, os caras foram competentes demais, os músicos tocaram impecavelmente e o Wayne Hussey tem uma super presença de palco e canta pra caralho (desculpe, palavrão inevitável).

Logo em seguida foi a vez da banda brasiliense Prot(o) tocar no palco 2, sinceramente não assisti ao show deles, fui comer uma coxinha de 1 real e descarregar as duas cervejas já tomadas. Por sinal um fato interessante a registrar, inexplicavelmente o banheiro onde uma imensa placa dizia Masculino, era para as mulheres, e o outro por eliminação era para nós, o que gerou fila pois obviamente o banheiro projetado para mulheres não possui mictórios para homens, nonsense.

Neste interim, encontrei um amigo (finalmente!) que acabara de chegar para assistir o Rodox. A banda estreante começou a detonar logo em seguida. Detonar neste caso, é para mim, no mau sentido. Porque o cara (Rodolfo) e seu clone de boné e barba (outro vocalista) só faziam pular e gritar, enquanto os três (!) guitarristas guerreavam contra o baixista ex-Los Hermanos e o baterista e sua bateria-metralhadora de dois bumbos. Entre algumas músicas Rodolfo fazia discursos com seu novo tom evangélico. Em resumo, achei uma m.. ops..droga!

Depois disso a apresentação dos impublicáveis Testículos de Mary soou suave em meus ouvidos, e foi pra mim uma surpresa. Tirando o figurino homo-erótico-trash, que me lembrou o Edu K do DeFalla, eles tocam direitinho e tem uma performance bem realizada. Eu achava que a apresentação deles era mais caótica, entretanto os caras mostraram que sabem muito bem o que estão fazendo e aquele escracho todo é muito bem pensado.

Depois de muitas horas em pé e pulando, sentei em frente ao palco 1 para descansar e esperar o Pato Fu. A idéia era eles apresentarem o show do novo disco Ruido Rosa ainda inédito no Recife, mas eles surpreenderam tocando hits antigos. No final o John desvendou a questão, eles fizeram uma homenagem aos 10 anos do festival tocando as músicas que haviam apresentado nas edições de 1995 e 1997. O show teve também um telão projetando imagens de computador sincronizadas com as músicas. Os últimos acordes foram tocados por volta das 01:30h do sábado.

Resumo da ópera, valeu a pena mesmo ter ido, mas que podia ter sido melhor isso podia.

PS. Foi mal o post-reportagem imenso, mas uma das minhas motivações principais para escrever neste blog é o registro de parte das minhas memórias, e esse foi um momento memorável.

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